domingo, 6 de outubro de 2019

Continuando com o Pai Nosso ( Orações 2 ) - cap.26

O paladar da alma é a consciência.


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Há anos, em uma dada época, eu comecei a rezar o "Pai Nosso" e em cada trecho eu fazia uma reflexão buscando compreender o significado. Esta prática continuou, dia após dia, durante meses. Não lembro se estas reflexões duraram um ano ou mais. Neste processo eu fui modificando a oração porque as partes estavam perdendo o sentido para mim. Chegou um ponto onde eu parei de rezar esta oração.

"Pai nosso que estais no céus" - Observo em várias culturas a presença do machismo em diferentes aspectos, um deles é um Deus masculino, a maioria das divindades masculinas, somente padres, etc. Quando peço pra esta força bonita da criação, intencionalmente eu me conecto primeiro com o aspecto feminino. Mãe Divina, Mãe Natura, etc. Faço isto nas orações e em vários aspectos na minha vida, para desconstruir este machismo em mim.

A força criadora, na minha compreensão, não está no céu, ela está no ar, na água, na terra, no Sol, na formiga, no passarinho, em tudo o que existe!

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"Santificado seja o vosso nome" - Eu não tenho vontade de santificar o nome desta força criadora, não necessito, e para mim ela não necessita que eu o faça. Tudo o que há, na minha percepção, é divino! Tudo, sem exceção.

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"Venha a nós o vosso reino" - Para mim a ideia de Reinado, castelos, etc, é algo sem sentido. Não tem nenhum reino para vir a mim, tudo o que existe é partícula desta força criadora, somos ela, tudo é este reino, se assim queremos denominá-lo. Nada precisa vir a mim, tudo já está. Respiro o ar e estou respirando Deus, bebo água  e estou bebendo Deus, olho as estrelas e estou olhando Deus...

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"Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu" - Para mim a vontade do "Amor" já está feita, é o Livre Arbítrio, liberdade para que cada Ser use a sua vontade para fazer o que sentir vontade de fazer. Liberdade, amor, respeito ao SER de cada um. Eu não digo para as minhas filhas e filho para que vivam de acordo com a minha vontade, respeito a vontade deles, para que acertem e errem, para que vivam experiências, para que se construam, para que façam as suas escolhas. Compreendo que a força criadora me respeita da mesma forma. Cada SER é responsável por decidir as suas ações de acordo com a sua consciência, e assume as consequências.

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"O pão nosso de cada dia nos dai hoje" - Aprendi a interpretar este trecho como sendo o pão espiritual. Compreendo que tanto o pão físico e o espiritual estão na mesa da criação. Se o ser humano quer comer, que semeie, que cultive, que colha. Os alimentos estão aí para os pássaros, para os peixes, para os animais, para as plantas... E da mesma forma estamos repletos de alimentos espirituais em todos os instantes, basta despertarmos a consciência a poderemos aprender com o por do Sol, com a caminhada, com o voo de um pássaro, com um problema familiar, com uma doença, com tudo. Dos aprendizados amadurecemos, crescemos em consciência. O alimento precisa ser buscado por aquele que tem vontade de se alimentar! É cômodo desejar que uma força superior coloque alimento em nossas almas!

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"Perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nosso devedores" - Este aspecto eu vejo como sensato. Se eu perdoo, se eu sou um ser que faço atos conscientes, se tenho merecimentos, então tenho integridade para rezar e pedir à uma lei maior que perdoe uma dívida que tenho que está me fazendo viver um determinado sofrimento.

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"Não nos deixeis cair em tentação, livrai-nos do mal" - As tentações são situações que eu preciso viver, compreender, amadurecer para aprender a lidar com elas. Não posso pedir a Deus que me livre do mal, que me coloque em uma bolha protetora... Eu preciso viver, acertar, errar, aprender a assumir as consequências dos meus atos. Nesta vida tudo são lições, aprendizados, não posso pedir pra Deus ficar fazendo as tarefas por mim.

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"Amém" - Amém significa "assim seja". Eu trabalho para retirar os "desejos" da minha vida, e colocar no lugar a energia da "vontade". O corpo tem as suas necessidades, sente fome, sente frio, sente calor, etc. E nós criamos as  necessidades psicológicas, os "desejos".  Os egos são os desejos, desejo de brigar, desejo de continuar comendo sem necessidade, desejo de fugir, desejo de vingança, etc, etc, etc. Não desejo que assim seja, ou que assim não seja, a vida segue, independente dos meus desejos. Me educo para não agir por um desejo, mas agir por uma "vontade consciente".

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Não tenho a mínima intenção de desvalorizar as orações do cristianismo ou de outras instituições. Eu segui por décadas rezando sem ser consciente do que rezava, falando sem ser consciente das minhas palavras, agindo sem ter consciência das minhas ações. Eu não tenho vontade de ficar repetindo orações, frases, atitudes, feito um papagaio. Busco o que tenha sentido pra minha vida. Busco ser consciente. Neste meu momento de vida esta oração não me serve, e tantas outras também não. Se servem para outras pessoas, eu respeito.

Eu não tenho dúvidas que estas orações foram escritas por seres humanos. Se Jesus deixou uma oração, certamente segue sendo adulterada, século após século, e não é esta.

No próximo capítulo vou refletir sobre a oração de São Francisco de Assis.

Ulisses Higino
Poesias Para o Despertar
ulisseshigino@gmail.com


Este livro é continuação do livro "A morte do ego e o despertar da consciência" e os outros que estão sendo escritos na sequência.

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