domingo, 12 de janeiro de 2020

Roupas de sentimentos (O amor) - cap.07

Diante do Amor 

Minhas palavras silenciam diante da beleza da Rosa.
Meu olhar, diante da sua luz, cega-se de felicidade.
Meus braços desfalecem diante da vontade imensa de doarem-se em carinho...
Meu coração, extasiado diante da pureza, verte lágrimas sobre o véu da paz, ao vislumbrar o paraíso!

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Convivendo com um objeto, com um mineral, com uma planta, com um animal, com outra pessoa, podemos e compreendo que normalmente criamos uma roupa de sentimentos para este ser. Pode ser uma roupa de sentimentos bons ou ruins. E com o tempo podemos alimentar esta vestimenta, fortalecê-la, acrescentar-lhe novas características.

Há quinze anos eu participei de um projeto social, era casado na época. Levamos pra casa uma filhote de cão labrador do Projeto Cão Guia de Cegos. Ficamos como família hospedeira ajudando na socialização dela. A Frida precisava se acostumar a viver em família, ser levada para passear entrando nos ônibus, shoppings, parques, lugares frequentados por várias pessoas. Ela precisava se acostumar com ambientes públicos, pois depois iria ser adestrada para entrar nestes lugares, conduzindo uma pessoa com deficiência visual. Tínhamos um lenço identificador que a autorizava a entrar em todos os ambientes com a gente.

Quando ela completou um ano tivemos que levá-la para o Corpo de Bombeiros, para ser adestrada e ser doada para uma pessoa com deficiência visual.

A relação com ela foi uma relação amorosa, era uma cadela dócil. Minhas filhas, meu filho, cada integrante da família criou a sua vestimenta de sentimentos com a qual se relacionava afetivamente com ela. E a Frida certamente criou uma representação mental para cada um de nós, agregando sentimentos a estas representações.

Foi um ano de convivência com a Frida, com diferentes experiências que passaram a fazer das nossas vidas, e estas experiências nos estimularam a criar energias afetivas para com ela.

Depois de um ano sendo adestrada ela não pode ser doada para uma pessoa com deficiência visual, pois no ato de conduzir esta pessoa ela percebeu a insegurança da pessoa e não conseguiu ficar segura. Nos ofereceram a guarda dela e aceitamos. Foram mais alguns anos de convivência.

Aconteceu a minha separação e depois de um tempo a mãe das minhas filhas e filho se mudou para um apartamento e uma pessoa conhecida da família se ofereceu para ficar com a Frida. Aconteceu mais um período de separação. Os laços afetivos foram diminuindo por não serem alimentados.

Depois de alguns anos a família que estava com a Frida teve que devolvê-la, pois se mudaram de estado. Esta devolução aconteceu hoje, e ela foi para o apartamento onde estão minhas filhas e filho.

A Frida é uma labradora que vai completar quinze anos daqui há três meses. Está muito bonita apesar da idade avançada. Aparenta estar ficando cega e perdendo a audição, e por ser uma cadela de grande porte, teve uma queda e ficou mancando. Fui fazer um curto passeio com ela e o meu filho... Meu centro emocional ficou sensibilizado ao ver a Frida demonstrando estar no fim da vida, tendo um pouco de dificuldade de caminhar...  Teve dificuldade de subir a calçada, tropeçou, caiu e bateu a cabeça no chão... Mas não se machucou... É uma senhorinha que está no final da vida... Construímos uma história comum em nossas vidas...

Há muitos anos, no primeiro ano de vida dela, fui eu quem muito cuidou dela. Colocava remédios quando adoecia, dava banho, levava pra passear, levava para as consultas na clínica veterinária do Projeto, etc. Quando ela se aproximou de mim, hoje, demonstrou ter lembrado. Deve ter lembrado do SER que sou, do meu cheiro, da minha voz... Momentos bonitos da vida!

Aquela vestimenta de sentimentos que eu criei pra Frida está renascendo! E quando ela se for vai acontecer um choque, pois ficará um vazio que aos poucos será curado.

O amor é a consciência, ela usa as nossas memórias como referência, para analisar, compreender a vida. E cria alguns sentimentos para revestir algumas relações. Estes sentimentos, quando puros, embelezam a relação. Quando a nossa consciência está adormecida todo este processo se desenvolve de forma inconsciente.

Os sentimentos são duais, bons ou ruins, maravilhosos ou destrutivos. O amor não é os sentimentos, é a consciência. A compreensão destes fenômenos é importante para um viver consciente, para que um SER conduza seus processos sabendo o que está acontecendo, sendo o regente dos fenômenos. Muitas pessoas vão vivendo, sem compreender, sendo vítimas das circunstâncias.

No próximo capítulo eu vou continuar com este assunto.

Ulisses Higino
Poesias Para o Despertar
ulisseshigino@gmail.com


Este livro é continuação do livro "A morte do ego e o despertar da consciência" e os outros que estão sendo escritos na sequência.

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