domingo, 16 de dezembro de 2018

Comunidade na Estrutural (Natal 2018) - cap.03

Palavras, seres que modelo como criador divino, geradoras de emoções ou estados emocionais. São como as folhas de uma laranjeira, você pode ir, colher e fazer um chá, ou então deixá-las lá até que o tempo as transforme em pó... As folhas de uma árvore são palavras que a mãe flora escreve, pulsando vida na natureza!

Sou árvore, escrevo folhas, para que produzam frutos, para alimentar as almas que sintam prazer com o sabor do mel que do meu SER vem à terra!

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Há uns quatro ou cinco ano atrás realizei uma campanha com minhas alunas e alunos. Arrecadamos roupas, sapatos, alimentos e doamos para moradoras(res) de uma comunidade chamada "Santa Luzia", na Cidade Estrutural. Um aluno foi comigo fazer a entrega das doações.

Muitos barracos de papelão, madeira, plástico... Moradas adaptadas, vidas carregadas de sofrimentos... Casais com suas crianças, olhares iguais aos olhares que amanhecem em camas confortáveis, mas aqueles olhares de lá amanhecem abraçados com a miséria humana...

Pessoas com bons empregos, convênio médico, casa própria, carro, perdem a paciência com besteiras do dia a dia. Cai o copo com o chocolate quente e ficam bravas; vivem xingando no trânsito; reclamam de um mau tempo; discutem por política ou futebol, de uma forma que as vezes se agridem... São várias picuinhas motivando conflitos entre pessoas com vida boa! Agora imaginem as pessoas que moram na comunidade Santa Luzia, quantos motivos não tem para terem raiva, impaciência, revolta, depressão, vontade de chutar o pau da barraca? Como ter limpeza em casas onde o chão é um monte de terra, que quando chove faz lama? Como manter as roupas, esfarrapadas, limpas? Como se alimentar bem? Como ficam mães e pais com filhos nestas circunstâncias? Como cobrar consciência de pessoas que vivem com dores todos os dias?

Muitas pessoas nestas condições usam drogas para anestesiar a dor, ficam viciadas e caem mais fundo no poço...

Muitas pessoas não conseguem ter consciência por causa de uma dor de dente, outras vivem com raiva porque seu time de futebol perdeu, outras ficam deprimidas porque repetiram de ano na escola... E as moradoras(es) da Cidade Estrutural, ou de outras comunidades parecidas, quem tem moral de exigir que estas pessoas tenham equilíbrio, consciência, vivendo na miséria humana?

Pessoas ricas são viciadas em drogas por falta de estrutura moral, falta de consciência, falta de sentido existencial em uma vida preenchida pelo vazio do egoísmo. Pessoas que vivem na miséria entram nas drogas baratas para poderem anestesiar as dores da miséria humana... Mas só as pessoas viciadas pobres é que entram para as estatísticas, são as que são presas, são as que são condenadas...

A miséria humana é uma fábrica de fazer desequilíbrios mentais, emocionais e físicos; fábrica de produzir ladrões, viciados, estupradores, pedófilos, esquizofrênicos, etc. Mas, na riqueza, a miséria do egoísmo produz as mesmas mazelas!

Alguns SERES são tão fortes que mesmo em condições de miséria conseguem manter-se íntegros! É milagroso! Mas não são maioria...

Certa vez convidei meu filho e fomos de ônibus pra comunidade na estrutural, tive vontade de mostrar pra ele a realidade de lá. Quando o ônibus passou pela comunidade o cobrador nos orientou a não descermos, disse que o local é muito perigoso, que os ônibus param de circular ali após as 18hs... 

Quantos empresários(as), pessoas ricas, políticas(os), intelectuais, apesar de já terem condições de se aposentar e viver de renda, são viciadas em poder e dinheiro? Roubam, e roubam mais, e roubam mais, e praticam corrupção, e exploram a sociedade... Se estas pessoas, com toda vida boa que tem, estão presas nos egos da ganância, do egoísmo, das drogas, o que esperar das pessoas que estão sendo torturadas na miséria? Que sejam honestas?

O que é o Natal? Vamos sorrir? Vamos beber? Vamos fazer de conta que o amor existe?

Muitas pessoas falam dos marginais como sendo horríveis, mas quantas pessoas procuram saber as causas que levaram estas pessoas a entrarem para o mundo do crime? O que a sociedade faz para ajudar a diminuir o desequilíbrio social? Quem abre mão do futebol, do churrasco, de um filme bom, para dedicar sequer uma hora em uma semana para fazer um trabalho voluntário?

Tem gente demais falando de um amor de época natalina, sorrindo, criando um natal consumista, capitalista... Acho melhor falar um pouco da dor humana.

No próximo capítulo falarei das crianças na Cidade Estrutural.

Ulisses Higino
www.poesiasparaodespertar.blogspot.com.br
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